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Artigos de Opinião

Cadeiras organizadas

Hipnose, a técnica aparentemente misteriosa

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Liga a televisão, durante a tarde. Encontra duas pessoas sentadas, uma numa cadeira, outra numa poltrona. De repente, uma das pessoas pede a outra que foque a sua atenção em algo, comece a relaxar e de repente... Durma!! Magia, bruxedo ou controlo mental? Nada disso... É apenas Hipnose.

A cada dia que passa, Hipnose sobe em popularidade e adesão. Atualmente, dois canais televisivos transmitem programas em que Hipnose é uma parte importante. As redes sociais estão cheias de ofertas de cursos de Hipnose, com a promessa de sucesso garantido e que vocês vão se tornar no maior "hipnoterapeuta" e "hipnotizador". Mentalistas, profissionais do ilusionismo que realizam ilusões recorrendo a técnicas e efeitos psicológicos, tendem a maravilhar a sua audiência com rotinas de Hipnose. Apesar de tudo, Hipnose continua a ser rodeada de mistério e controvérsia, sendo associada a mecanismos de controle mental e o forçar da autoridade. Nada poderia ser mais longe da realidade. Como profissional que estuda, forma e emprega Hipnose em prática clínica, decidi realizar dois textos sobre o tema. 

A primeira pergunta lógica a fazer será: O que é Hipnose?

Antes de mais, é importante referir que existem várias teorias de Hipnose, cada uma apresentando a sua definição. Hipnose é um estado de atenção focada onde, por via de sugestões, realiza-se uma modificação emocional, cognitiva e comportamental. O foco pode ser num ideia, pensamento, numa sensação, num objecto, etc. Ao alcançar esse estado, a pessoa fica mais permeável a aprendizagens mais profundas e rápidas, fazendo com que a mudança ocorra mais rapidamente. Algumas técnicas semelhantes, mas não idênticas, são meditação, alguns tipos de Yoga e Mindfulness (sendo um estilo de meditação diferente do tradicional).

Hipnose é "uma jovem". O termo surge, pela primeira vez, no ano de 1843 pela mão médico escocês James Braid. O termo conduz a um engano, Hipnose é constituída por Hypnos, o Deus Grego do Sono, o que leva a pensar que é um estado de sono artificial. Contudo, a pessoa não só permanece bastante acordada, como até consume mais processos psicofisiológicos e neurológicos do que naquele que é chamado "estado de vigília".

Apesar de ser utilizada como sucesso em operações cirúrgicas, substituindo anestesias químicas, a comunidade cientifica ofereceu uma enorme resistência a Hipnose, considerando-a como algo mais esotérico. Parecia que Hipnose teria uma nova hipótese, quando o médico e um dos fundadores da Psicanálise, Sigmund Freud apelou ao seu uso, como uma das fundações iniciais da sua teoria psicanalítica. No entanto, com a rapidez que Freud apelou à sua utilização, descartou o seu uso, em função de outras técnicas. Apesar do seu arrependimento em tê-lo feito, no final da sua carreira, Freud facilitou no novo desaparecimento da Hipnose.

Durante esse tempo, a prática de Hipnose foi mantida por artistas em componentes de espetáculo. Ainda hoje em dia podemos ver esses espetáculos ao longo de alguns países da Europa, Estados Unidos e Brasil. Em plena verdade, esses espetáculos têm o potencial para fazer pior do que melhor, apresentando a Hipnose como algo em que o artista controla o espectador, entra na sua mente, faz com que realize feitos impossíveis e que pareça que tem poderes especiais. Essa imagem passa pois o artista não explica como isto é feito e, especialmente, no que consiste Hipnose. E, mesmo que ofereça uma explicação, o público pode não acreditar, dado à natureza das rotinas que são utilizadas. O Youtube está cheio dessas demonstrações.

Um novo fôlego para a Hipnose parecia estar no ar, nas Grandes Guerras Mundiais. Pessoas treinadas no uso de Hipnose utilizavam-na nas operações, devido à falta de fármacos e clorofórmio. Mas, o que parecia ser prometedor, não passou disso... uma promessa. Mais uma vez, Hipnose continuava renegada para os palcos.

Nem tudo estava perdido. Psiquiatras e Psicólogos tentaram revitalizar Hipnose, através de investigação. Escalas hipnóticas foram criadas, investigações no uso da Hipnose na Dor e Medicina Dentária foram realizadas com sucesso e as características psicológicas, sociais e cognitivas da Hipnose foram exploradas, a fundo. A grande luz, para esta era, veio através do psiquiatra americano Milton H. Erickson, um dos mais conhecidos inovadores de Hipnose e Terapia. O impacto que Erickson deixou e continua a deixar, por meio da Fundação Milton H. Erickson, fez com que Hipnose viesse para ficar. E, assim, parecia que o mundo ficou rendido. Mas...

Nem tudo são rosas, muito pelo contrário. O nome "Hipnoterapia" tem sido forçado, quando não existe! Hipnose é uma técnica terapêutica e não uma terapia, em si. Para que possa ser aplicada com sucesso, a pessoa deve ter formação e conhecimentos num modelo terapêutico, de modo a poder incluir Hipnose. A literatura tem apresentado propostas de Hipnose mais Psicanálise (Hipoanálise), Hipnose mais Terapias Existenciais (Hipnoterapia Existencial) e Hipnose mais Terapias Cognitivo-Comportamentais (Hipnoterapia Cognitiva).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Mas Pedro, e o Coaching e PNL? Isso serve, certo? Para efeitos médicos e clínicos, não! Coaching e PNL não são sistemas de terapia, logo não possuem o rigor e a validação empírica necessária. Isso significa que uma pessoa com um quadro médico e/ou psicopatológico deverá ser visto por um profissional credenciado e, para além dessa credenciação, terá de ser devidamente certificado na utilização de Hipnose.

Hipnose não possui uma regulação legal, o que significa que qualquer pessoa a pode utilizar. Para ser mais fácil, vou utilizar o meu exemplo. Por lei, para exercer Psicologia, preciso de uma formação superior (5 anos), um estágio profissional de 1600 horas e ser membro efectivo da Ordem dos Psicólogos Portugueses. Só assim posso exercer Psicologia. Como Hipnose não é uma terapia, não está abrangida. Se for um terapeuta alternativo, pode utilizar Hipnose. Nada o proíbe. Isso faz com pessoas sejam seduzidas a fazerem cursos de PNL e Hipnose, por exemplo, e montarem negócios profissionais como "Hipnoterapeutas".

O meu conselho para si é o seguinte: se precisa de ser acompanhado, procure um profissional devidamente credenciado para o fazer. Primeiro, ela deve saber lidar com o seu problema. E só depois, saber lidar com o seu problema, utilizando Hipnose. Hipnose está a tornar-se num negócio lucrativo e o foco está a ser este mesmo: lucro.

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Artigo de Opinião realizado pelo Dr. Pedro Ribeiro - Doutorando em Psicologia pelo ISPA.

Publicado em 10/10/2021

Não tenha receio de pedir ajuda, é a sua saúde que está em jogo!

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Durante anos, a Saúde Mental foi sendo vista como uma consequência de questões físicas. Tudo teria uma explicação orgânica e causa física. A parte da mente seria apenas uma consequência desse trauma. Como resultado, a prescrição farmacológica seria a solução indicada. Se o diagnóstico fosse correto, a pessoa poderia melhorar. No entanto, se o diagnóstico fosse dúbio, a solução seria saltar de fármaco para fármaco. 

Mesmo a Psiquiatria, a especialidade médica que está mais ligada à Saúde Mental, surgiu assente no modelo biológico. Neste modelo, a principal intervenção é a farmacológica. Apenas mais tarde, o surgimento e popularidade da Psicanálise fez com que a Psiquiatria integrasse este modelo. E, se é um facto que muitos psiquiatras tornaram-se psicanalistas, a escolha pela análise seria muito selecta, quase sempre em quadros neuróticos, histéricos e falhas narcísicas. 

Com o surgir da Psicologia, a Psiquiatria veio incorporar o modelo biopsicossocial. Segundo este modelo, a origem da doença mental estaria envolta de fatores biológicos, psicológicos e sociais, que explicam o surgimento ou agravar dos sintomas. Apesar desta evolução, adivinhe-se qual é a principal solução? É isso mesmo, medicação!

Com o avanço da Psiquiatria, surge a necessidade de criar uma hierarquia de perturbações. Chamar-se-ia Manual Diagnóstico e Estatístico de Perturbações Mentais. Criado pela Associação Psiquiátrica Americana, o DSM seria a "Bíblia" do que respeita a dar nome a uma determinada condição que perturba o funcionamento psicológico da pessoa, interferindo severamente com a vida social, familiar e profissional. Actualmente, o DSM vai na sua quinta edição, sem sinais de abrandamento. Claro que o DSM não é o único manual de diagnósticos existente mas é, sem dúvida, o mais utilizado. A partir de um dado momento, passamos de uma hipótese de Perturbação Mental para todo um conjunto de Perturbações. 

Seria de esperar que a Psicologia tivesse uma palavra diferente a dizer. Na sua ânsia de reconhecimento e aceitação como Ciência, a Psicologia aproximou-se à Psiquiatria. Psicólogos começaram a usar o modelo médico, sem a parte da prescrição farmacológica. E, como único profissional acreditado para avaliar psicologicamente o ser humano, o Psicólogo começou a usar manuais como o DSM, dando "rótulos" ao sofrimento humano. Não me interpretem mal, é importante saber-se com que o se está a lidar. Mas o foco deveria ser a intervenção e não a categorização da condição humana!

E então a pessoa que não se encontra numa determinada categoria? Não precisará de ajuda? Claro que sim!

Todos nós temos pensamentos, emoções e uma interioridade que nos acompanha e que nem sempre está na sua condição mais saudável. Ao mesmo tempo, o mundo exterior também nos afecta, seja na interação com amigos, familiares, colegas de trabalho, chefes e parceiros de relações amorosas. Nem sempre conseguimos estar o mais equilibrados possíveis.

Por mais que tentemos lutar e tentar seguir em frente, nem sempre conseguimos sozinhos. Nesta situação, devemos pedir ajuda, sem pensar que é uma vergonha. Porque todos nós precisamos de ajuda, em qualquer altura da nossa vida!

O papel do Psicólogo é acompanhar e guiar a pessoa, com o objetivo de mudar o que não está bem. Através do estabelecimento de uma relação especifica, o Psicólogo oferece o seu conhecimento técnico e postura humana, ao serviço da melhoria da condição humana e de bem-estar psicológico. O Psicólogo não se resume a avaliar, diagnosticar e rotular!

O Psicólogo não é o "Médico dos Malucos"! Nem sequer é médico, é um Técnico Superior de Saúde Mental, sem o poder para prescrever fármacos. Em casos de grande severidade, o Psicólogo deve trabalhar com quem possa prescrever, sendo que a intervenção do Psicólogo é sempre com o poder da palavra. E a palavra, quando bem aplicada, tem imenso poder!

Num mercado de tanta oferta de "ajuda", há que ter cuidado com as escolhas que possamos fazer. Investigue, pergunte, tire referências.

O Psicólogo é um profissional certificado, regulado por uma Ordem Profissional, que deve respeitar um código de conduta próprio. É um profissional devidamente treinado na avaliação do comportamento humano e no funcionamento psicológico do ser humano. Somos profissionais de ajuda!

Não tenha receio de pedir ajuda, é a sua saúde que se encontra em jogo!

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Artigo de Opinião realizado pelo Dr. Pedro Ribeiro - Doutorando em Psicologia pelo ISPA.

Publicado em 29/10/2021

Os testes online que avaliam a personalidade em dois minutos

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Aposto cinco euros como já todos nós visitamos aqueles sites em que dizem avaliar a nossa personalidade em dois minutos, nem que seja por mera curiosidade. Não é difícil, dado que existem centenas desses sites perpetuados pela internet fora. No entanto, é difícil respeitar a sua duvidosa credibilidade, já que os testes psicológicos, que avaliam a personalidade, entre outros aspetos, podem demorar anos até serem colocados em prática. Isto deve-se a uma matéria: a Psicometria.

Na perspetiva de Pasquali (2009), a Psicometria é um campo científico da Psicologia que procura construir e aplicar instrumentos para a mensuração de construtos e variáveis psicológicas, junto de análise estatística. Como se já não fosse complexo o suficiente, esta disciplina envolve qualidades psicométricas como a validade e a fidedignidade.

A validade é a capacidade do teste medir aquilo a que se propõe já a fidedignidade é a “consistência dos scores obtidos pelos mesmos sujeitos quando são examinados com o mesmo teste em espaços de tempo diferentes” (Anastasi & Urbina, 2000).

De uma forma simplificada, é todo este conjunto de procedimentos que faz com que os Psicólogos tenham acesso a testes psicológicos, em que exige bastante esforço e resiliência.

É através de um teste psicológico (e não só!) que se recolhe algumas informações importantes acerca do paciente, como os níveis de ansiedade e/ou depressão. E não é apenas numa sessão que se consegue analisar todos os dados pertinentes do mesmo, até porque terá que ser corrigido e devidamente interpretado.

Então também não será digno de se dizer “tenho personalidade amigável” ou “sofro de personalidade antissocial”, informação essa dada por um site sem qualquer evidência científica e com dados recolhidos pela resposta a cinco perguntas de escolha múltipla. Caso contrário, se os testes verdadeiramente psicológicos estivessem disponíveis a qualquer um, a profissão de Psicólogo, iria definitivamente por “água abaixo”.

E não, os testes online não avaliam a personalidade em dois minutos e não demonstram em nada um diagnóstico verdadeiro e objetivo. Não obstante e se existir algum tipo de sintomatologia clínica, deverá consultar sempre um profissional de saúde credenciado pelas Ordens Profissionais

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Artigo de Opinião realizado pela Mestranda Alexandra Jesus - ISMAT.

Publicado em 15/03/2022

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